A reportagem percorreu durante uma semana algumas das principais unidades de saúde do Governo do Amazonas em Manaus e constatou problemas em atendimentos.
Álisson Castro . portal@d24am.com
Manaus - Mesmo com o aumento no número de leitos nos principais hospitais e prontos-socorros de Manaus e a promessa do Governo do Amazonas de melhorar o serviço, pacientes ainda aguardam atendimento em leitos improvisados instalados nos corredores e, em alguns casos, em salas de espera das unidades de saúde.
Em abril do ano passado, a Secretaria de Estado de Saúde (Susam) anunciou o investimento de R$ 80,3 milhões para reforma e ampliação de leitos nos hospitais e prontos-socorros 28 de Agosto (zona centro-sul), Dr. João Lúcio (zona leste) e Platão Araújo (zona leste). O 28 de Agosto passou de 191 leitos para 376, o Platão Araújo de 86 para 193 leitos e em 2009 o João Lúcio passou de 135 para 210 leitos.
As obras, concluídas no ano passado, não foram suficientes para impedir que pacientes recebam tratamento em macas nos corredores nas instituições por causa da falta de leitos nos setores de emergência.
A constatação foi feita pela reportagem durante a semana passada, quando o DIÁRIO visitou os três principais hospitais e prontos-socorros de Manaus, 28 de Agosto, na zona centro-sul, João Lúcio e Platão Araújo, ambos na zona leste, além do Pronto-Socorro Infantil da Zona Sul, no bairro Cachoeirinha, zona sul, e Serviços de Pronto-Atendimento (SPAs).
Deitado em uma maca instalada na sala de espera do Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, o estudante Pablo Peres reclamava de fortes dores. Peres mal conseguia falar por causa de uma crise de apendicite. No local, Pablo aguardava por uma cirurgia. “A gente chegou aqui às 12h44, foi feito exame de sangue e um enfermeiro o deixou aqui aguardando o resultado do exame”, afirmou o irmão do paciente, o mecânico Fabrício Peres, apresentando à reportagem uma ficha indicando o horário em que o irmão chegou ao pronto-socorro para ser atendido.
Ainda no 28 de Agosto, a funcionária pública Helena Cunha, 60, informou que estava acompanhando uma irmã dela, internada na unidade desde a semana passada. Helena disse que a irmã teve de aguardar quase dois dias sentada em uma cadeira por causa da falta de leito no setor de internação. “Enquanto esperava, ela teve de ficar tomando soro na sala de medicação do hospital ”.
Espera
A operadora de caixa Lívia Cláudia da Costa, 31, contou que chegou ao 28 de Agosto acompanhando a mãe dela. Ambas chegaram ao local por volta de 12h30 e passaram pela triagem às 14h, de acordo com Lívia. “Eles (funcionários do hospital) só nos atenderam porque minha mãe desmaiou na sala de espera. Parece que as pessoas só são atendidas quando já estão no limite”, reclamou.
No Hospital e Pronto-Socorro Dr. João Lúcio, a reportagem constatou dez pacientes instalados no corredor que dá acesso ao setor de emergência.
A dona de casa Juliece Ribeiro, 28, informou que estava no local acompanhando a mãe dela que estava internada desde a tarde da última terça-feira da semana passada e estava preocupada com a falta de estrutura. “Pelo que vejo, vou ter que ficar aqui à noite toda em pé. É uma vergonha!”, afirmou a dona de casa.
Fiscalização
O presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam), Mário Viana, informou que durante fiscalização, a entidade já verificou pacientes do setor de emergência e urgência instalados em corredores de hospitais e prontos-socorros públicos de Manaus.
Segundo Viana, a presença de pacientes em locais inapropriados causa problemas para os médicos e pacientes. “Esta situação afeta principalmente a intimidade de certos procedimentos médicos, como o toque retal, por exemplo. Será um constrangimento para ambos, por ser realizado em um local não apropriado”, avaliou o presidente do Simeam.
Mães aguardam em pé com filhos no colo em SPA
No Serviço de Pronto-Atendimento (SPA) do Galileia, na zona norte, pacientes reclamaram da demora no atendimento do setor de pediatria. No corredor, dezenas de mães aguardavam em pé com filhos no colo.
A dona de casa Glaucineide Rosa, 31, contou que estava esperando há mais de duas horas por atendimento. “Isto sempre é assim quando trago minha filha. Tem este monte de gente na fila e poucos pediatras (para atender)”, desabafou.
No SPA do bairro Alvorada, zona centro-oeste, o estudante Kleiton Queiroz aguardava uma ambulância na tarde de quinta-feira, 19, para ser transferido ao Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto. “Esperei mais de quatro horas, ainda bem que moro aqui perto e podia ir de vez em quando em casa. Minha mãe ficou aqui esperando a ambulância e me avisou quando ela chegou”, afirmou o estudante antes de embarcar no veículo para ser transferido.
A costureira Leny Miranda, 47 , reclamou da fila de espera para atendimento no SPA Danilo Correa, no bairro Cidade Nova, zona norte. “Meu filho tá precisando de um ortopedista e apenas na fila para preencher a ficha esperei de uma hora”, reclamou.
Situação é comum em ‘qualquer hospital’
O secretário estadual de saúde, Wilson Alecrim, afirmou que em ‘qualquer hospital do mundo’ é comum encontrar pacientes em macas nos corredores. “Quando os pacientes aguardam resultado de exame, ou mesmo ultrassonografia, eles esperam nos corredores e, quando necessário, são disponibilizadas macas para que eles esperem deitados. A partir do resultado destes exames que o médico irá encaminhar o tratamento indicado para cada caso”.
Sobre os pacientes que estavam no corredor do setor de emergência do Pronto-Socorro Dr. João Lúcio, o secretário informou que alguns estavam ali recebendo medicação e outros aguardavam transferência para outras unidades de saúde. Alecrim informou que nenhum dos pacientes que estavam instalados nos corredores precisava ou foi submetido a procedimentos cirúrgicos.
“Em geral são casos clínicos e os pacientes estavam ali em observação. Nestes casos, os pacientes ficam nas proximidades de onde estão sendo feitos os procedimentos médicos para tornar mais ágil o tratamento”, disse. Sobre a falta de estrutura para os acompanhantes, o secretário afirmou não ser recomendada a presença de acompanhantes.
Sobre a reclamação de usuários dos Serviços de Pronto- Atendimento (SPAs), Alecrim afirmou que o número de pacientes nestas unidades de saúde aumentou cerca de 50% após o fechamento de algumas Unidades Básicas de Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), principalmente nas zonas leste e norte da cidade.
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